Este texto não tem perfil acadêmico, o que geraria muitas referencias artísticas e históricas. É voltado para o público leigo ou relativamente informado da área, com interesse em construir, seja como proprietário ou como empreendedor construtor.
Resumo histórico
As construções que muitas pessoas consideram modernistas, na realidade derivam de tipologias antigas. A unica diferença é que durante o período modernista, esta tipologia foi tomada como se fosse de autoria desse período (em geral absolutamente associado ao marxismo, infelizmente, e por isso essa tomada de autoria, movimento politico e social tipico dos que se apropriam do alheio como se tivessem direito a isso.) Nâo que em algum momento esse discurso tenha sido explícito, mas sempre foi divulgado como tal.
Em cidades como Cairo, Marrocos e diversas outras da África, Mikonos e toda a região mediterranea, já existiam casas de perfil “telhado reto”. Isso está em alguns casos associado ao índice pluviométrico muito baixo, em outros, a cultura do local mesmo, ou à ausência de telhas como são conhecidas: as de cerâmica.
Já em 1898, com o Palácio Stocklet para a Sezession de Viena, de Joseph Olbrich, e a proposta da Cite Industrielle de Garnier, as casas retas de Adolf Loos e outros arquitetos do final do século XIX já ensaiavam a reaplicação da estética racional e livre de ornamentos inúteis, como defendiam alguns, ou relacionada à beleza industrial da nova era, para outros.
Importante destacar aqui que este estilo não é contemporâneo, não é minimalista (o que é outra proposta parecida com o industrialismo racional e o anti-art nouveau).
As obras hoje concebidas com linhas retas estão associadas também a influencia européia fortemente derivada da industrialização da construção civil, e da marcante necessidade de insolação no inverno em locais mais frios. Isso é absolutamente oposto ao que ocorre no Brasil, que carece sempre de beirais exceto no lado sul , ou climaticamente, janelas menores para evitar o ataque das radiações solares e o efeito estufa, paredes mais grossas e com menor inércia térmica.
Se bem que na prática um dos fatores que mais tenham contribuído para a utilização das coberturas “planas” seja o custo do madeiramento de um telhado convencional, sabemos que o fator cultural é mais forte que o financeiro, e mesmo gastando 5% a 10% a mais no custo da obra, (com não necessária correspondente valorização do imóvel...) a telha cerâmica ainda é preferida como cobertura, principalmente na opinião dos mais antigos.
A lenda que existe em torno da cobertura plana é que ela “esquenta”. Claro, sem laje e com a telha de 4mm, a 2,50 de altura como numa casa de baixíssima renda: será um forno. Mas o caso é a laje e a telha 6mm distante pelo menos uns 30cm no ponto mais baixo, onde há a calha.
Outra lenda é que ela “desvaloriza” o imóvel. Um mito irritante que se encaixa e permanece apenas em mentes apequenadas, pois as melhores obras são feitas tanto com telhado cerâmico, shingle, plana fibrocimento, metálica, ou qualquer outra cobertura. Desde que o projeto seja bom, e a obra também.
A maior vantagem da cobertura plana, em termos administrativos, é o consumo muito baixo de madeira, o que é perfeitamente coerente com uma postura comprometida com o meio ambiente. Além disso, reduz o custo da mão-de-obra pois o pedreiro pode assentar estas telhas, já que o madeiramento é muito simples. Inclusive, técnicas já bem estabelecidas substituem o madeiramento por metálicas, tanto para a cobertura plana quanto para as cerâmicas e asfálticas, por exemplo.
Por outro lado, as calhas e rufos encarecem o m2 deste tipo de cobertura, mas ainda assim fica no final, mais barato que o telhado convencional.
Em termos estéticos, corresponde ao desprendimento do conservadorismo clássico, com uma postura mais racional já proposta séculos atrás, mas também absolutamente atual.