Os novos Boomers
Eu sempre gosto de associar um contexto histórico e uma identidade de grupo a um estilo estético. A geração x, não é definitivamente a geração Baby Boomer, que é uma geração específica super abastada americana e não se aplica a todos os países, evidentemente. Utilizar esta denominação é prova de cultura rasa e preguiça investigativa. Meu título foi apenas uma brincadeira provocativa!
Mas infelizmente já se estabeleceu como padrão para os frágeis descendentes dessa polêmica Geração x, da qual eu faço parte, não saber de tantas coisas e ainda assim enquadrar em pequeníssimos cubos rasos, extensões enormes de coisas da realidade que não são compreendidas nem no vulto.
Sobre os Genx em geral, pode-se dizer que pela idade e pelas condições históricas precedentes, em geral é uma geração relativamente assentada economicamente em toda a sua variabilidade, com padrões estético em grande parte influenciados pelos anos 80 e 90, um pouco dos anos 2010 e em geral mas nem sempre, atualizados tecnologicamente.
Em se tratando de boomer, o termo pode de certa forma significar economicamente resolvido e tio ou tia - do ponto de vista de quem está caminhando para a vida adulta, e por isso em fóruns e debates nas redes sociais, podemos apreciar os falantes de língua inglesa e também de outros idiomas, sempre apelidando os "mais velhos e conservadores" de boomers, em tom jocoso, segundo seus pontos de vista joviais e inexperientes.
Isso é reflexo sim de uma postura econômica e social, inclusive, que vai incidir nas imagens de decoração, ícones, texturas, e linguagens. Não é portanto, uma geração super tecnológica que cresceu sob a tutela do Google; Esta foi praticamente a geração que criou a internet e os computadores, (não citando os criadores primordiais, mas a massa crítica deles) mas antes disso, teria lido toda a Barsa e a Enciclopédia do Estudante. E por isso, em muitos casos há espaço generoso para bibliotecas, e coleções de vinil, quadros de acrílico grandes, abstratos, peças provocativas de cunho sócio-político, e etc.
Vale lembrar que é a geração que era criança ou jovem adulto quando o muro de Berlim caiu, e portanto, com um pé na cultura da Guerra Fria e outro na do Bill Gates. Foi também a geração que desfrutou do surgimento da música eletrônica, sem no entanto desconhecer a música analógica, os instrumentos musicais e o valor de uma partitura, de um piano ou um simples violão. E isto certamente se reflete em sua decoração.
Painel vazado
O momento de pico de assentamento econômico desse grupo coincide com o surgimento dos leds em grande escala, e usinagens 3D incipientes: routers 3D e 2D, desenhando e recortando MDFs em divisórias com desenhos complexos gerados em computador. E ainda que o muxarabi seja inicialmente conhecido por nós de origem árabe, ele é também chinês, talvez muito mais antigo. Aqui no Brasil, foi uma expressão consolidada pelo modernismo, com o cobogó que é a mesma coisa, só mudando a geometria, e de forma mais simbólica e antiga, no imaginário, a renda portuguesa como item vazado, cortinas e bordas, grades de carruagens imperiais, etc. Também fazem parte deste momento, os cortes a laser em chapas de aço, muito caros, mas existentes sim, para quem podia (e pode) pagar.
O cobogó, difundido no mundo pelos fazedores de arquitetura e incentivado via discursos ideológicos a partir de professores universitários, penetra com o modernismo, na cultura brasileira, em paralelo aos vetores do discurso social marxista, a Carta de Atenas, e o marxismo cultural, e algumas outras idéias que podem e talvez devam ser ignoradas - já que o cobogó é muito mais antigo que o modernismo, e existe desde sempre.
O modernismo exerce forte influência sobre esta geração e estilo correspondente, tomado por algumas pessoas não como um instrumento político e ideológico, mas como (erroneamente) um patrimônio cultural nacional, ao exemplo de Brasília, então desta forma, apesar de estarmos traçando a origem de sua difusão no Brasil, é absolutamente importante não levarmos em conta como isso aconteceu.
Impressão 3D?
Ainda não. Essa já é uma aquisição das próximas gerações, com a disseminação de impressoras 3D de uso doméstico e industrial. Mas como fuçadores que somos, nós GenX não só podemos comprar como facilmente podemos manipular isso tudo. Aliás, é a geração que inventou as routers e a usinagem computadorizada.
TV de Led, sério?
Atualmente é muito simples e comum, mas foi nessa geração que as tvs passaram na escala industrial de tubo para o modelo slim, gerando assim os tão conhecidos painéis de TV, que quando existentes na geração dos 80s e 70s, eram embutidos os tubos na parede... com tamanhos que não chegavam tanto a 40 polegadas, ainda.
Atualmente, com tvs gigantescas, o próprio desenho dos painéis para emoldurar telas não tão enormes já muda, pois eles faziam uma ponte entre a TV perdida eventualmente numa parede enorme, para não ser poluída com quadros e outros penduricalhos ao redor, desviando a atenção da mesma, enquanto que essa mesma moldura é um suporte que eleva e evidencia a grande aquisição da época: TV de tela plana. E também, sugeriam distantemente a presença da sala de cinema, porque essa geração viveu enfiada nas salas de cinema. Nâo existia tanto streamming ou tvs por assinatura, e alugar fitas de videocassete era um luxo próximo do cinema: a sala de tv, o home theater, são conceitos que surgiram para e pela Geração x.
LED, sanca no gesso e nos móveis? Pode?
Os LEDs vieram para ficar. Mas antes deles, haviam os cordões de iluminação, analógicos e de filamento, esquentavam mas geravam uma moldura linda amarelada aconchegante. E foi nesse período que se consolidaram, abrindo as portas para os LEDs que já existiam mas não estavam difundidos nesse sentido. Obrigado China... Dessa forma, com a disseminação de leds de baixo consumo, as sancas - extensões dos cortineiros, que se pode dizer efetivamente serem coisas de boomers, classicas conservadoras e que os mais jovens não exatamente entendem, explodiram em geometrias. E foi nessa geração também, mais uma vez, que surgiu outra coisa importantíssima: o gesso acartonado, que possibilitou extrema plasticidade no design de forros e no luminotécnico. Por isso, uma monstruosa transformação social surgiu exatamente nesta geração, e estará sendo desfrutada por todos as próximas letras do vocabulário depois do x e reinício da contagem.
Cadeiras injetadas de plastico
Além das cadeiras de acrílico tão famosas nos anos 70 e 80, além do design plastico dos 60, houve um revival das cadeiras de plastico injetadas, principalmente em polipropileno (PP) e poliuretano (PU), em grande parte por causa do comércio com a China suprindo os desejos ocidentais, copiando modelos patenteados antigos e ignorando qualquer limite, a citar por exemplo, a famosa Eames, a Ghost, além de ainda manterem e darem acessibilidade às de acrílico como a Luiz/Sophia/Carlota e similares,com tantos nomes comerciais que já não sabemos mais como chamá-las . A acessibilidade destes e novos modelos nos trouxe muitas alegrias!
MDF/MDP
Apesar de o MDF já existir ha algum tempo, foi nesse período e um pouco antes que bombaram e substituíram os móveis de compensado formicados (super anos 60, 70 e 80) e nos trouxeram uma infinidade de texturas e padrões de puxadores e revestimentos. Não confundir MDF com MDP: o primeiro é de ótima qualidade em geral, e o segundo é o famigerado aglomerado, de lojas como Casas Bahia, TOK STOK, Etna, Italínea, etc. Bonitos por fora, farelentos por dentro.
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